Monday, August 10, 2020

Soen - Melancolia Progressiva



Os Soen chegam-nos da Suécia rotulados de supergrupo, principalmente porque dos seus membros originais constam 2 nomes pesados da cena metal, Martin Lopez (ex Opeth e Amon Amarth) e Steve Di Giorgio (ex Death, Testament e Sadus).

Originalmente formados em 2004, só em 2010 anunciam o seu lineup onde aos 2 acima referidos se juntam o vocalista Joel Ekelöf e o guitarrista Kim Platbarzdis.

A sua sonoridade sempre foi definida como Metal Progressivo, mas é muito mais que isso, nas palavras do próprio Martin Lopez, Soen é melódico, pesado, intrincado e diferente de tudo o resto.

A estreia em disco chega-nos em Fevereiro de 2012 com Cognitive, um álbum que podia muito bem ser encaixado na discografia de Tool, aliás numa altura em que Tool estava em hiato, este disco ajudou a preencher esse vazio. Ekelöf apresenta um registo vocal extremamente colado ao de Maynard James Keenan, e até no groove do disco se sente a presença da “instituição-Tool”.

Destacamos as faixas “Savia” ou "Fraccions".

Em Novembro de 2011 chega-nos Tellurian, o segundo álbum da carreira, um pouco mais progressivo que o anterior, com melodias fortes e um groove mais intuitivo.

É um disco muito mais orgânico também, onde as canções parecem com mais espaço para respirar, onde parecem ganhar mais vida própria e caminham sozinhas cada vez para mais longe da herança de Tool.

É também o primeiro disco com um novo baixista, Stefan Stenberg, que veio trazer á secção rítmica mais consistência e uma maior ligação com a guitarra de Platbarzdis.

Tellurian é também um disco mais emotivo, destacamos as faixas “Tabula Rasa”, “Kuraman” e “The Words” onde podemos ver toda a evolução na voz de Ekelöf. 

No ano de 2017 chega Lykaia, aquele que é para mim o melhor disco de Soen e um dos discos da minha vida, desculpem esta pincelada mais pessoal.

Ao terceiro disco chegam as mudanças na formação, ao novo baixista Stefan Stenberg, que tinha entrado no disco anterior, juntam-se agora Lars Ahlund nas teclas e Marcus Jidell na guitarra, que trouxe a este disco um cunho muito forte, e uma sonoridade muito característica.

Lykaia é um álbum quase conceptual, é sobre a viagem mística dos jovens rapazes até a idade adulta, é a ideia mágica de um antigo festival realizado no Monte Lykaion, que envolvia dar carne humana a estes jovens, para que eles se tornassem lobisomens. É esta metáfora da passagem da infância para a idade adulta, com todas as suas feridas e dores de crescimento, que norteia o disco. 

Em termos sonoros, este disco trás uma emotividade e profundidade á banda que ate aqui não tínhamos visto, há aqui uma alma nova nas letras mas mais até na sonoridade. A guitarra de Jidell tás uma assinatura ao som da banda que até aqui não havia, trás um pouco do “felling- zeppelin”, aquele registo místico, com influências do médio oriente, que também podemos sentir na percussão.

Os Soen já passaram várias vezes por Portugal, mas nenhuma noite será mais especial que aquela vivida no RCA a 21 de Outubro de 2017. Foi nesta noite que a banda sueca nos visitou, e nos presenteou com um concerto memorável, que nem a banda nem os presentes (eu incluído) já mais vai esquecer. A qualidade técnica dos executantes, a energia do público, a emotividade das cancões…não é por acaso que na reedição do álbum aparecem duas faixas gravadas neste concerto. Foi uma noite para não mais esquecer.

Lykaia está cheio de belas canções, mas pessoalmente destaco “Jinn” e “Lucidity”, faixas onde podemos ouvir toda a mestria dos suecos.

O último lançamento da banda data de Fevereiro de 2019 e chama-se Lotus.

Aqui já não temos a guitarra de Jidell, para o seu lugar entra Cody Ford e, a meu ver, perdeu-se algo no som da banda.

Lotus é uma dissertação sobre a sociedade moderna, sempre com uma visão poética, mas sem esquecer o lado caótico dos tempos em que vivemos.

É um disco com uma profunda dimensão pessoal, mas de um ponto de vista universal. Aqui encontramos muita complexidade, peso e como não podia deixar de ser, emoção, algo a que os Soen já nos habituaram. A luminosidade negra da voz de Ekelöf, que nos enche de esperança e de sombras ao mesmo tempo, a máquina afinada de Lopez e os solos espirituosos de Ford, o “new guy”, são os traços deste disco.

As faixas a ter mais atenção, a meu ver, são “Lascivious”, “Martyrs” ou a faixa titulo “Lotus”.

Soen já é uma certeza no Metal Progressivo, com um lado ate mais alternativo, aguardamos pelos novos sons saídos desta máquina sueca de emoção e técnica, soma que por vezes falta a algumas bandas do género.

https://soenmusic.com/

Pedro Pereira


No comments:

Post a Comment